pitomba verde
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
receita de coração bem passado

antes de tudo tenha os olhos mais lindos que puder ter. tenha-os verdes, expressivos, daqueles que me faça não sentir vontade de olhar pros seios na primeira vez que a vir. acompanhe uma bela sobrancelha, como que feita à mão, mas não perfeita, porque vejo graça na imperfeição. tenha bochechas e lábios apetitosos. tenha pele dourada, cor de mel, assim como belos cabelos castanhos claros derramados até seus ombros. sorria de modo que eu não possa fazer nada até que você decida parar de sorrir, e deixe que seu sorriso guie, como um furioso, talentoso maestro, seu belo olhar até mim. antes de levar ao forno, demonstre entusiasmo perante minha apatia. conheça-me num dia, e acompanhe-me durante todo o próximo, e diga que não se importa de perder seus compromissos pra ficar ao meu lado. ignore meu silêncio, aproveite-o pra dizer-me o quanto gosta de chico e caetano, o quanto gosta de acerola, umbú e pitanga, o quanto gosta de engenharia e das coisas que gosto. mostre-me seus planos, mostre-me que por trás desses seus olhos de criança há uma força maior que a minha. conte-me seus anseios e aflições, e eu poderei ver o quão madura você é. complete o preparo sendo muito mais nova que eu, e, como que pondo uma exótica pimenta, diga-me que já tem alguém ao seu lado, mas diga-me sem paixão. coloque pra cozinhar por dois dias. mande-me uma mensagem quando eu estiver voltando do trabalho, e, sem esperar minha resposta, ligue pra contar quanta saudade há em você. almoce comigo. ouça-me dizer, de modo pateticamente infantil, que já estava também com saudade, e diga-me o quão bom é pra você ouvir isso de mim. veja se já tá tudo bem cozido e, com duas colheres de azeite e uma pitada de ingenuidade, que você deve salpicar por cima de suas palavras, ponha-me numa frigideira a fogo alto e espere dar o ponto. o prato vai bem com vinho branco, à luz de velas, regado a um sexo carinhoso depois. mas sirva com cerveja gelada mesmo, porque é a minha preferência.

é uma loucura isso tudo, mas não queiram ver essa porra passar do ponto.
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"these words i write keep me from total madness." charles bukowski

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