pitomba verde
segunda-feira, outubro 18, 2004
diogo mainardi

deus disse "faça-se a luz", e a luz surgiu. olhou prum lado e danou um "faça-se a terra!", e ploft. olhou pro outro e "faça-se o mar!", e tchum, levantou o indicador e "faça-se o céu!", e vupt. bueno. deus criava o mundo obscena e despudoradamente, dia após dia, até que, de tão empolgado (é fácil se empolgar quando você pode fazer qualquer coisa) pecou por excesso. criou o homem, e, sem querer, criou com isso a estupidez. tudo bem, ninguém é perfeito...

faz tempo que eu queria falar de diogo mainardi, o avatar da estupidez brasileira. não que ele seja um completo idiota, ele me convenceu de que as coisas não são assim tão simples. explicarei. estava eu ontem à noite (um domingo de merda) num quarto de hotel em fortaleza, e, opa, se não é o campeão de cartas da veja dando uma entrevista pra marília gabriela...! huumm.....ok, vou te dar uma chance, dioguito. e ele não a desperdiçou. começou bem, dizendo que tem pena dos assinantes da gnt que vão ter que aguentar um sujeito "aborrecido e desinteressante". uau, é isso aí, cara!!! a afirmação, além de ter um fundo de verdade, mostrou de cara o quão esperto ele é: em sua "feroz" auto-observação, ele ganha dos dois lados. entre aqueles que adoram sua coluna, ganha a simpatia e solidariedade - chego a ver uma fã sua passando a mão em seus cabelos desgrenhados e dizendo "ôô dioguinho, eu te acho brilhante!!!". entre seus críticos, passa-lhes uma rasteira ao tomar a iniciativa de modo tão.... digamos.... brilhante. vamos em frente, o sono até passou. não demora e ele dá uma pequena demonstração de sua tática: diz que, no primeiro ano do governo lula, via uma certa unanimidade na imprensa, que o deixou "irritado". ele começou a criticar o governo, e o teor político de sua coluna parecia álcool numa tequila. estava "cumprindo sua função", e, hoje em dia, com a imprensa menos maravilhada, dá-se ao luxo de pegar mais leve. eu quase fiquei tocado, ali estava um paladino da imprensa cumprindo seu papel! hummmm, não sei vocês, mas a verdade é que eu acho muito fácil descer o cacete nos outros - e se você é o único a fazê-lo, melhor ainda, não?? vejamos o seguinte: o bukowski, durante suas idas ao hipódromo, percebeu que um cara perdia sempre. para o buk, o cara era um verdadeiro gênio, porque conseguia perder SEMPRE. tipo, se o cara apostasse sempre, digamos, no cavalo três, num período de um ano, era esperado que ele iria ganhar alguma vez. mas o cara sempre escolhia um perdedor diferente, era impressionante. com o diogo é exatamente o contrário. e ele admitiu isso na entrevista. sua tática é dar pontapés, sempre, e, não por sorte, essa estratégia num mundo de estúpidos dá resultados, e dos bons. então essa história de "cumprir função" não desceu muito bem em mim... ele não era simplesmente um completo imbecil, ele era um cara inteligente usando uma tática pouco honesta. mais exemplos. num ponto da entrevista ele disse que não gosta de dar entrevistas porque não tem muito a acrescentar sobre qualquer assunto, suas opiniões são aquelas mesmas que ele vomitava na veja. huuummmmm, cara, sinceramente, eu prefiro acreditar que não, porque, se o que ele tem a dizer é somente aquilo que escreve, então esqueça o pouco mérito que eu lhe dei até agora, o texto deveria ter acabado logo no início, na parte do "completo imbecil". na boa, eu prefiro achar que é cinismo da parte dele. não há do que se envergonhar, dioguito, eu mesmo às vezes tenho que recorrer a essa "seita", relaxa, mas não queira que eu engula essa - você deveria saber que a parte ruim de não ser um imbecil é que esses embustes nos causam uma azia...

a entrevista prossegue. eu fico fascinado com o diogo, ele não é tão desinteressante como tenta disfarçar. à medida que as perguntas são feitas, entretanto, eu começo a me decepcionar: as perguntas são, em sua maioria, estúpidas. hummmm, essa marília gabriela....mas, ei, é claro que devem ser estúpidas! é claro que as perguntas não vão jogar duro com esse método faixa-preta de escrever, é claro que não iremos ao cerne do trabalho de diogo: afinal a audiência é composta dos estúpidos que lhe escrevem cartas carregadas de elogios. perguntado se ele recebe muitos comentários por causa de suas opiniões "polêmicas", ele diz calmamente "somente dos leitores". marília, com mais uma pergunta estúpida, repete: "os alvos de suas críticas, não reclamam?", ao que dioguito, quase bocejando, diz "se reclamam, ao menos não o fazem pra mim". eu posso adivinhar o porquê: seus alvos podem até ser o cão chupando manga, mas geralmente não são estúpidos, e, portanto, a eles pouco importam as críticas do diogo, afinal, toda semana ele vai golpear alguém mesmo. entendem? é isso que o faz o avatar da estupidez, mesmo sendo esse ser inteligente que é. a parcela de 70% da população de analfabetos funcionais (é vero!!) eu nem conto. os estúpidos aos quais me refiro são aqueles que quase se salvam, que têm potencial para ter um bom senso mais apurado, mas que são abduzidos pela forma "brilhante" e língua ferina do nosso avatar. e nesse bolo está a marília gabriela.

eu posso dissecar mais e mais o nosso dioguito, pois apesar das perguntas inócuas ele sempre dava um gostinho do seu embuste. por exemplo, nosso avatar disse que havia enjoado de seu estilo de escrever livros, assim como o de alguns escritores. quando o estilo de alguém ficava evidente e repetitivo em livros após livros lançados, ele perdia o interesse. uau, imagino que ele deve tomar alguns comprimidos de dramin antes de bolar sua coluna semanal, hum? em outra pérola, afirmou que não entendeu a reação dos recifenses que reclamaram quando ele fez uma crítica velada e sem maior importância à cidade. e foi além: "certa vez vi uma favelada dizer que gosta da favela em que vive... eu não entendo, brasileiro tem essa coisa, não consigo entender". ha, ha, ha, quero um sonrisal. ele mesmo, no início da entrevista, quando perguntado sobre o fato de ele não ter escrito sobre a itália, enquanto morava lá, afirmou que poderia ter escrito sobre outros lugares, sim, que teve essa oportunidade, mas que o negócio dele era o brasil, afinal, disse, "eu sou brasileiro". ei dioguito, opção sua ter esse seu estilo virulento, acho inclusive que você deve mantê-lo até a morte (ou passará fome), mas esse falso ar de incompreensão perante as atitudes mundanas de seus estúpidos admiradores pega muito mal...não?

eu acho que por hoje chega. essa merda toda não vai fazer diferença nenhuma pra mim, encontro muito mais substância, por exemplo, nas tiras do laerte. aah, cara, tudo lá soa mais autêntico.
terça-feira, outubro 12, 2004
para compensar os longos períodos sem postar, tão aí dois negócios, grandões mesmo, desculpem-me. tou indo pra fortaleza hoje à noite, tomar minha dose mensal de estresse, e só volto fim do mês. esse feriado foi quase uma merda. beijos.

obs.: "que velhinho engraçado!", minha vó, que pegou por acaso aqui no quarto o capitão saiu para o almoço..., do buk, e não parou de ler.

obs2: vão assistir kill bill vol 2!

obs3: pelamordedeus, ignorem as sinopses dos filmes!!!!! bando de trastes!!
o encontro que estabeleceu a falência dos ânimos e sua relação com o inominável

num luxuoso quarto de hotel em veneza, num cair de tarde de uma longínqua primavera, estão sir roger moore, jean-baptiste deleneuve e o homem sombrio. roger moore encontra-se impaciente. jean-baptiste está, nesse momento, preparando para si um alexander. o homem sombrio acende seu charuto.

"pra mim basta! não dá pra esperar mais! vinte e três!!", roger moore brada, fitando o homem sombrio, que o encara, em tom de desaprovação.

"paciência, sir roger, paciência. ainda há alguns que se atrasaram, mas eu te adianto: quarenta e oito...", o homem sombrio é interrompido pela gargalhada de jean-baptiste. "ainda é cedo para isso, meu caro", fala o francês, enquanto acaba de preparar seu drink. o cheiro de cacau pode ser sentido no quarto. sir roger moore pára de andar em círculos, e olha para jean-baptiste.

"minha nossa, você adora beber essa porcaria!", resmunga moore, enquanto volta a sentar-se na luxuosa poltrona, lançando um olhar de desdém para o francês.

"nossas paixões sempre nos levam a, cedo ou tarde, adorar uma ou outra, sr. moore. o vinte e três, por exemplo...", e imediatamente roger moore resmunga algo para si. breve silêncio. jean-baptiste aproxima-se da janela: "quem diria... não devemos nos antecipar. o trinta e sete não chega aos quarenta e oito, mas é de um ímpeto e originalidade fantásticos."

"recuso-me a discutir o trinta e sete!", exalta-se o inglês.

"sr. moore, não cabe ao senhor definir o escopo deste oitenta e dois. o oitenta e dois existe há séculos, e não cabe a nós dizer o que pode ou não ser discutido". o homem sombrio continua após uma breve pausa: "jean-baptiste tem o direito de propôr o trinta e sete, assim como o senhor propôs o vinte e três mesmo ciente de sua polêmica!"

"você fica aí no canto fumando seu charuto azedo em silêncio, querendo se passar por juiz, mas onde estava você quando mango-mango tomou para si o cinqüenta e cinco ao mesmo tempo - aqui moore impõe um tom enérgico - em que o cinqüenta e quatro e o cinqüenta e seis estavam sob observação?"

o homem sombrio parece grunhir. a fumaça de seu charuto envolve o abajur ao seu lado como os anéis em saturno. roger moore está em pé, fitando tensamente o homem sombrio, à espera de
um revide.

"vamos, calma!", o francês puxa moore pelo braço, "estamos aqui para resolver tudo isso, não para prosseguir nessa disputa idiota. gostaria de provar um autêntico ale irlandês, sir roger?"

moore recompõe seu paletó. "oh sim, sr. deleneuve, sim....peço desculpas... esse assunto, os senhores sabem, deixa-me tenso". e, virando-se para jean-baptiste: "adoraria, meu caro. não bebo um autêntico desde o centésimo terceiro."

"aaah, o centésimo terceiro... ", suspira jean-baptiste, enquanto dá o último gole de seu drink. "não fosse pelo rigoroso inverno daquele ano, o centésimo terceiro estaria nas mãos de um lunático, e deus sabe onde estaríamos agora!"

"mortos, mon ami, mortos", completa o homem sombrio. "assim como doze e quinze, na época do sessenta e nove. o sessenta e nove então... "

todos riem. o clima tenso parece ser deixado de lado. Longos minutos decorrem, enquanto moore aprecia sua bebida e o francês prepara outro alexander. o homem sombrio agora fuma seu charuto voltado para a janela, contemplando os últimos raios de sol que se arrastam sobre os antigos canais de veneza. do lado de fora do quarto, uma figura imaculada anuncia sua chegada dando os treze toques à porta que lhes são peculiar.

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haverá continuação...



domingo, outubro 10, 2004
sobre a ascensão de arcelino

arcelino lia tranquilamente seu jornal enquanto petiscava aqui e ali um estrogonofe de frango, tendo seu almoço solitário de domingo num bom restaurante ao lado do parque principal. as mesas e cadeiras de madeira, bastante requintadas, eram colocadas na calçada, aos domingos, sob as sombras das grandes árvores e com vista para o parque, e isso atraía famílias inteiras que vinham provar a especialidade do restaurante, o estrogonofe de carne acebolada, com creme de banana e pimenta, uma mistura exótica, mas que fazia sucesso na cidade. arcelino, no entanto, estava proibido por seu médico de comer seu prato preferido, e por isso ele, um senhor de idade de saúde frágil, limitava-se a pedir um simples estrogonofe de frango com suco de mangaba ao mesmo tempo em que se punha a ler jornal. neste domingo, em especial, a leitura do jornal estava ficando um pouco complicada, pois ao seu lado, numa mesa, uma barulhenta família não parava de tagarelar, e havia uma mulher com uma voz extremamente gasguita e um homem que ria como uma metralhadora por qualquer coisa, e arcelino quase estava para se levantar quando foi surpreendido por um pobre mendigo, um homem que, embora tivesse lá seus 40 anos, os difíceis anos de solidão e miséria tinham-no deixado com um aspecto repugnante, de barbas imundas e pele que parecia casca cobrindo todo seu rosto, e um cheiro horroroso, como um incenso pútrido que o acompanhava por onde quer que fosse. por um instante arcelino não entedeu o que o sujeito tentava lhe falar, mas então percebeu que se tratava do de sempre, o que mais poderia ser que aquela gente queria, senão esmola? o mendigo estava faminto. ainda que estivesse num estado de inquietação incomum (lembremos da algazarra familiar ao seu lado), arcelino, naquele dia, tomou uma atitude inesperada, pois se sua mulher ainda estivesse viva teria ficado pasma ao ver seu marido convidar "aquela imundície ambulante" a sentar com ele, sendo que foi realmente o que aconteceu, imediatamente chamando um garçom para que trouxesse "um enorme prato de estrogonofe acebolado" para o indigente. não demorou muito para que o prato viesse, e arcelino notou que o garçom, outrora bastante solícito e sorridente, desta vez parecia um tanto quanto tenso, colocando o prato no meio da mesa, e não à frente do sujeito, como deveria fazer, e assim também os talheres foram postos todos juntos, quase jogados, e não dispostos cuidadosamente na vertical, como obedecesse a um rito. para o mendigo, porém, nada disso era importante, logo estava comendo, frenetica e alegremente. arcelino ficou a observá-lo durante um tempo, e não demorou sentiu um súbito alívio no coração (muito estranho), que foi seguido por uma ou outra reflexão cristã, e sua mente teria se enredado muito mais em teias morais e filosóficas se não fosse por uma repentina percepção de que a família ao seu lado, aqueles alienígenas barulhentos de minutos atrás, agora falava baixo, por vezes sussurrando, e disfarçava olhares tortos em sua direção. as crianças, elas, como sempre, às vezes faziam em alto e bom som perguntas que revelavam o teor das conversas dos adultos, ao que eram rapidamente censuradas com chiados e tapinhas. arcelino percebeu então que não apenas seus "vizinhos", mas outras mesas também passaram a olhá-lo de maneira estranha, alguns nem disfarçavam sua reprovação, e isso o deixou um pouco perturbado, como se podia notar, mas resolveu ignorar todo o resto e continuou, fascinado, a observar seu convidado enquanto este saboreava, pela primeira vez na vida, o creme de banana apimentado que era especialidade da casa. foi interrompido pelo garçom, que pediu educadamente que o acompanhasse. arcelino deixou o mendigo comendo e seguiu o garçom estabelecimento adentro. em sua cabeça perguntava a si mesmo o que poderia ser, e, pior ainda, por que estava a seguir aquele idiota sem ao menos indagar o motivo, mas, então, antes que pudesse dizer algo, o garçom parou próximo ao balcão e o apresentou ao dono do restaurante, que por sua vez foi direto ao ponto dizendo a arcelino que ele não deveria ter convidado o indigente para comer e, muito pior, sentar com ele, que já havia reclamações dos outros clientes, que aquilo deveria ser resolvido imediatamente. o cozinheiro apareceu como que por encanto e acrescentou que seu prato preparado com tanto carinho e entusiasmo não poderia ser desperdiçado em paladares tão abjetos quanto aquele, e diante daquilo tudo o velho arcelino ficou chocado. demorou alguns minutos para entender o que aqueles homens queriam. chegou a ouvir a voz de sua mulher o reprovando, enquanto o dono do restaurante olhava para ele firmemente, esperando a única atitude que lhe era cabível. o que aconteceu foi que arcelino não sabia o que fazer, como poderia chegar lá e pedir ao homem que se retirasse depois de ter feito o que fez? "não sei o que fazer", ele disse, ao que prontamente o dono lhe sorriu e, pondo em suas mãos um revólver, falou-lhe delicadamente ao ouvido para que matasse aquele vagabundo. então arcelino finalmente entendeu tudo, entedeu que havia agido mal ao convidar o maltrapilho para sentar, que tudo não passara de um grande erro, e pediu desculpas ao dono do restaurante, dizendo-lhe que aquilo não iria se repetir, e ao chef falou-lhe que era o maior apreciador de seu prato, que realmente tal iguaria não deveria ser desperdiçada na boca de selvagens, e nesse momento saiu do restaurante a passos firmes para despejar três tiros no mendigo, o segundo e o terceiro disparados quando o animal agonizava no chão, ao lado da família-algazarra, o primeiro nas costas, enquanto o homem comia. houve um breve silêncio, seguido por aplausos de todos os presentes, exceto do homem forte com gargalhada-metralha, pois esse, ao ver o acontecido, havia mergulhado numa crise de riso. o garçom, só sorrisos, veio e limpou a mesa, o dono do bar deu parabéns a arcelino, que lhe devolveu a arma, e todos voltaram a comer (o homem ainda continuava a rir). arcelino sentou-se, acabou seu suco de mangaba e pediu a conta ao garçom, mas este lhe disse que, devido ao acontecido, ao dono bastava que pagasse o que o defunto havia consumido, pois o seu era cortesia, assim como o seria por domingos seguidos, embora arcelino ainda não soubesse. o velho então pagou o que devia e, com o coração aliviado, limpou sua calça e foi para casa. próxima vez, pensou, iria quebrar um pouco a dieta e pedir a carne acebolada.

ps.: revisado/editado em 11/01/2005. quando arcelino se dá conta de que "foi um erro" chamar o mendigo pra almoçar, uma frase no texto sugeria que sua irritação (causada pela algazarra da família) era a causa principal pra ele ter chamado o mendigo pra sentar. essa idéia é errada e a frase foi removida.
"these words i write keep me from total madness." charles bukowski

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