pitomba verde
terça-feira, janeiro 10, 2006
jazz é muito bom, né não?

por volta de nove e meia meu telefone dá aquele toque de judeu, uma amiga das antigas. sabia que era alguma bronca. ligo de volta, já falando:

- diga, minha linda.
- essa vida é tão frustrante...
- você só percebeu isso agora?
- é. o que se faz com ela?
- amar.
- amar?
- é, amar.
- e...?
- ser amado também é importante.
- muito pouco. ainda é frustrante.
- fazer sexo com quem se ama é muito bom.
- isso é. mas tem que encontrar alguém que se ame.
- por isso é raro. na maior parte das vezes o negócio é ir transando com quem não se ama.
- até encontrar alguém que dê pra amar, e, talvez, dê pra transar.
- é, mas quando acontece é muito bom.
- é muito bom mesmo, mas é pouco.
- há quem se contente com isso. até achar o próximo amor...
- ou não querer mais sexo.
- como?
- ou até não se importar mais com sexo.
- aí melhora.
- melhora como?
- na maior parte do tempo a gente pensa em sexo. grande parte de nossa energia tá direcionada pra isso. quando a gente não quiser mais sexo, nossa paixão, nossa motivação, nossa energia vai estar direcionada pra coisas mais significantes da vida, e, diga-se de passagem, coisas muito menos problemáticas.
- é...?
- quando o desejo sexual desaparece, você pára de agir como animal e começa a agir como gente.
- mas é difícil!
- muito difícil!
- e chega uma hora em que você morre.
- é... você faz sexo na maior parte das vezes com quem você não ama, algumas com quem você ama...
- ...e então morre.
- é, e muito provavelmente morre ao lado de quem não ama.
- isso é frustrante.
- eu te falei, descobriu tarde.

ela diz que não consegue mentir pra mim e aí segue-se um papo bem mais pesado. coisas que só acontecem terça-feira à noite, é de lascar. e então chega a hora de desligar.

- vou pensar nisso tudo.
- pensa mesmo.
- eu te amo.
- também te amo.

já viram o que acontece quando se derruba a primeira pedra duma fileira de dominó? cacete...
quinta-feira, janeiro 05, 2006
a história é bela. o mestre zen hakuin é um dos raros que floresceram. um guerreiro veio a ele, um samurai, um grande soldado, e perguntou: "existe algum inferno? existe algum céu? se existem céu e inferno, onde estão os portões? por onde eu entro? como posso evitar o inferno e escolher o céu?". ele era um simples guerreiro. guerreiros são sempre simples. é difícil encontrar um negociante que seja simples. um negociante é sempre esperto, cheio de truques; do contrário, não poderia ser negociante. um guerreiro é sempre simples, do contrário, não poderia ser guerreiro. um guerreiro conhece apenas duas coisas: vida e morte, e nada mais. sua vida está sempre em jogo; ele está sempre arriscando tudo. é um homem simples. por isso os negociantes não puderam criar um mahavir, um buda. mesmo os brâmanes não puderam criar um ram, um buda, um mahavir. os brâmanes também são astuciosos, à sua maneira. também são negociantes, de um mundo diferente, do outro mundo. lidam com negócios, não deste mundo, mas do outro mundo. seu sacerdócio é um negócio; sua religião é matemática, aritmética. eles também são espertos, mais do que os negociantes. o negociante é limitado a este mundo; a astúcia dos brâmanes vai além. eles sempre estão pensando no outro mundo, nas recompensas que receberão lá. seus rituais, suas mentes preocupam-se em como obter mais prazeres no outro mundo. eles estão interessados nos prazeres. são negociantes. nem mesmo os brâmanes puderam criar um buda.

isso é estranho. todos os vinte e quatro teerthankaras jainas eram kshatriyas, guerreiros. buda era um guerreiro. ram e krishna eram guerreiros. eram pessoas simples, sem astúcia em suas mentes, sem aritmética. conheciam apenas duas coisas: vida e morte. aquele guerreiro simples foi a hakuin para perguntar onde estava o céu e onde estava o inferno. não foi para aprender nenhuma doutrina. queria saber onde estava o portão, para que pudesse evitar o inferno e entrar no céu. e hakuin respondeu de uma maneira que só um guerreiro podia entender.

se um brâmane tivesse ido perguntar, seria preciso recorrer às escrituras. os vedas, os upanixades, a bíblia, o alcorão teriam sido citados. então um brâmane entenderia. tudo o que existe para um brâmane está nas escrituras. as escrituras são o mundo. o brâmane vive na palavra, no verbal.

se um negociante tivesse ido, não teria entendido a resposta que hakuin deu, a maneira como ele agiu com o guerreiro. um negociante sempre pergunta: qual é o preço do seu céu? qual o custo? como posso consegui-lo? que devo fazer? quão virtuoso devo ser? qual a moeda? que devo fazer para conseguir o céu? o negociante sempre pergunta o preço.

ouvi contar uma bela história. aconteceu no início, quando deus criou o mundo. deus veio à terra para perguntar a diferentes raças a respeito dos dez mandamentos, as dez regras da vida. os judeus sempre deram muita importância a essas dez regras. os cristãos e muçulmanos também. todas essas religiões são judaicas. a origem é a mesma. e o judeu é o perfeito negociante.

então deus veio perguntar. apareceu aos hindus e perguntou: "gostariam de ter dez mandamentos?". os hindus disseram: "qual é o primeiro? precisamos de uma amostra. não sabemos o que são esses dez mandamentos".

deus disse: "não matarás". os hindus responderam: "vai ser difícil. a vida é complexa. envolve matar também. é uma grande brincadeira cósmica. há nascimento, morte, luta, competição. se toda competição for eliminada, tudo se tornará insípido, enfadonho. não gostamos desses mandamentos. estragarão o jogo".

então deus foi aos muçulmanos e disse: "não cometereis adultério". deus deu-lhes também um exemplo. os muçulmanos também haviam pedido um exemplo. eles disseram: "vai ser difícil. a vida perderá toda a beleza. pelo menos quatro esposas são necessárias. você chama isso de adultério, mas é tudo o que a vida pode dar, tudo o que um homem virtuoso deve ter. quem conhece o outro mundo? este é o mundo. você no-lo deu para o desfrutarmos, e agora nos vem com esses dez mandamentos. isso é contraditório".

deus continuou perguntando, até que chegou a moisés, líder dos judeus. moisés nem pediu uma amostra. deus ficou com medo. se moisés dissesse não, não restaria mais ninguém. moisés era a última esperança. no momento em que deus disse a moisés: "tenho dez mandamentos" – o que moisés respondeu? disse: "quanto custam?". é assim que pensa um negociante. a primeira coisa que deseja saber é o preço. deus disse: "não custam nada". e moisés: "então fico com os dez. se não custam nada, não há problema". e foi assim que nasceram os dez mandamentos.

mas esse samurai não era judeu. não era um negociante. era um guerreiro. veio com uma pergunta simples. não estava interessado em escrituras, em custos, em nenhuma resposta verbal. estava interessado na realidade. e o que fez hakuin? disse: "quem é você?" e o guerreiro respondeu: "sou um samurai". é algo digno de orgulho ser um samurai no japão. significa ser um guerreiro perfeito, um homem que não hesitará nem um momento para dar sua vida. para ele, vida e morte são apenas um jogo. ele disse: "sou um samurai. sou o líder dos samurais. até o imperador me respeita". hakuin riu e disse: "você, um samurai? mais parece um mendigo".

o orgulho do guerreiro foi ferido, seu ego levou uma pancada. o samurai esqueceu-se do motivo por que tinha vindo. tirou sua espada e estava a ponto de matar hakuin. esqueceu-se de que viera até esse mestre para perguntar onde estava o portão do céu e onde estava o portão do inferno.

hakuin riu novamente e disse: "esse é o portão do inferno. com essa espada, essa raiva, esse ego, abre-se o portão".

isso um guerreiro pode entender. e ele entendeu imediatamente: esse é o portão. então ele embainhou novamente a espada. e hakuin disse: "aqui se abrem os portões do céu".


bhagwan shree rajneesh.
terça-feira, janeiro 03, 2006
cerveja

eu não sei quantas garrafas de cerveja eu consumi enquanto esperava as coisas melhorarem. eu não sei quanto vinho e uísque (e cerveja, principalmente cerveja) eu consumi depois de romper com mulheres – esperando o telefone tocar, esperando pelo som de passos e o telefone tocar, esperando o som de passos, e o telefone nunca toca, até que bem depois, e os passos nunca chegam, até que bem depois, quando meu estômago vem saindo pela boca, elas chegam tão frescas quanto flores na primavera: "o que diabos você tem feito com você mesmo? vão ser três dias até que você consiga trepar comigo!"

a fêmea é durável. ela vive sete anos e meio a mais que o macho, e ela bebe muito pouca cerveja porque sabe que é ruim pra aparência. enquanto nós enlouquecemos, elas saem dançando e rindo com cowboys tesudos.

bem, há cerveja. sacos e sacos de garrafas vazias de cerveja. e quando você pega um deles a garrafa cai através do fundo molhado do saco de papel, rolando, tinindo, derramando cinza molhada e cerveja mijada. ou os sacos caem rolando às quatro da matina fazendo o único som da sua vida.

cerveja. rios e mares de cerveja. o rádio cantando canções de amor enquanto o telefone permanece em silêncio, e as paredes lá, bem acima e abaixo. e a cerveja é tudo o que há.




muito embora possam crer alguns que tais palavras vieram deste que vos escreve, assossego-lhes o coração admitindo que não tenho tamanho gênio - nem para as letras, nem para as bebidas, nem para a combinação das duas. o que fiz foi traduzir/adaptar um poema do velho buk chamado, uau!, "beer", e publicado em, uau!!!, "love is a mad dog from hell", ou "amor é um cão maluco dos infernos". ok?
"these words i write keep me from total madness." charles bukowski

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