pitomba verde
quinta-feira, abril 15, 2004
cap. 1 - a estrada, somente

ok, chega uma hora em que você está dirigindo, no meio da noite, numa serra baiana, pisando cautelosamente no acelerador dum carro velho, mas que nunca o abandonou. não há sinalização na pista, mas há caminhões e mais caminhões, todos pilotados por caprichosos caminhoneiros, tipos imponentes sentados lá no alto, conhecedores de todos os caminhos, homens fortes, na imagem popular, que deixam suas amadas esposas em suas casas modestas, nalguma cidade cujo nome significa algo em tupi-guarani, e você pensa sobre isso, e então é levado naturalmente a pensar em como todos - eles, você, e eu, estão sob a mesma chuva e, se nos fosse permitido ver além, naquele breu, todos estariam sob o mesmo céu estrelado. céu brasileiro, tão grande quanto. então seu amigo tá ali ao lado, com o pé no pára-brisa, resmungando algo sobre a chuva, e você coloca o rosto pra fora do carro, pra sentir a noite de forma um pouco mais poética, e ao mesmo tempo mais real. oohhh, e se você morresse ali, naquele momento? o vento continua passando lá fora, cara, é só pôr a mão pra sentir. aaaah, e as paisagens que estão passando, mas que não podem ser vistas porque não há luz? ou será que, quando não há luz, simplesmente não são paisagens, mas que idiotice... o fato é que você pode colocar sua cabeça pra dentro do carro novamente, sério, e pode parar em algum posto e conhecer alguma pessoa que você nunca mais vai voltar a ver, quem sabe até trocar umas palavras interessantes, sabe-se lá. e tem a próxima cidade também, por que não dormir nela e farejar alguma aventura pro fim dessa noite? mas, bem, podemos continuar curtindo essa estrada, falando sobre bobagens, sobre coisas boas e ruins, e fiquemos tranqüilos que o celular não vai tocar, lembre-se, assim como não há compromissos pra amanhã, como não houve pra ontem, tampouco precisamos chegar a lugar algum, e, como se tudo isso não bastasse, essa chuva vai passar e o sol vai nascer, e tudo se repetirá de uma forma diferente, saca? isso tudo é um pouco de liberdade.

eu ia falar sobre como as estradas estão terríveis lá fora, mas isso entra num próximo capítulo. é que eu tava escutando schizophrenia do sonic youth enquanto escrevia esse texto, sem direção alguma, então nada de dizer o que se quer. vive la liberté.
sexta-feira, abril 02, 2004
entre todas as suas (ou minhas) pretensões, algumas discordam fortemente de todo o resto (esse resto restrito ao nosso espaço íntimo, individual). um outro conjunto sobrevive harmoniosamente, e esse é de fato a estrada principal, que guia a maioria de suas/minhas ações. umas poucas são por completo arrojadas e arrogantes e tentam a todo o custo cancelar o meio do bolo e a crescente oposição. essas pretensões têm o potencial mais elevado, para o bem e para o mal (em sentido, também mas não apenas, figurado), e é difícil distinguir entre um e outro até que se conceda uma válvula de escape. isso aqui é tudo posto em palavras ermas, para que se compreenda que, de fato, o mais importante é a resposta do porquê não existir, em nosso vasto conhecimento, um conjunto completamente harmonioso de pretensões, e aqui vocês que estão aproveitando algo do texto deveriam refletir um pouco. na verdade muito. sério.

a questão anterior voltará a ser abordada, mas talvez não por mim. partirei para uma sentença mais clássica e modesta: minha viagem de ida e vinda pode ser dividida em 5 pequenos capítulos:

- a estrada, somente
- sobre bebidas e afins
- entre os afins e as mulheres
- o país em que você vive (ou porque você não vive no brasil)
- monty python, the meaning of life

caso me lembre de algum outro, acrescentarei aqui. há, provavelmente, um prólogo, mas, puta merda, já estou achando tudo isso muito chato e cansativo...

teremos novos posts, e recife é bom. termino como sempre, como um beijo, sacam?

ps.: não custa lembrar, aos mais chegados, que as pretensões citadas, comumente, podem ser não-pretensões, e o conceito é mais vago, e forte, do que aparenta.

"these words i write keep me from total madness." charles bukowski

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