pitomba verde
quinta-feira, setembro 06, 2007
da natureza dos sanduíches

ele estava comendo um baita de um sanduíche. algo terrível estava prestes a ocorrer. dito e feito, ela chega:

- limpa essa boca!
- mmm.... (de boca cheia)
- limpa isso, que nojo!
- por quê?
- por que o quê?
- por que eu limparia?
- porque está suja!
- e daí?
- como assim e daí? está suja!
- claro que está, eu estou comendo, o sanduíche é grande...
- por isso mesmo, a cada mordida você dá uma limpadinha!
- por quê?
- pra ficar limpa!
- pra sujar de novo na próxima mordida? pense um pouco sobre isso...
- pelo menos fica limpa!
- me responda sim ou não: quer que eu limpe a cada mordida?
- não, quero que você limpe e que fique limpa.
- (dá uma mordida e se mela) viu? não dá.
- ou você morde menos ou limpa a cada mordida.
- p'a não ricar chuja (mastigando)...
- é, pra não ficar suja!
- e por que não pode ficar suja?
- porque é falta de educação e é nojento!
- ô, vamos por partes... é nojento pra quem? pra mim é uma delícia.
- vendo daqui parece uma nojeira.
- quem te obriga a olhar?
- ninguém, olhei normalmente, como se olham as coisas...
- é nojento ver uma pessoa morta?
- repugnante.
- quem te obriga a olhar?
- ninguém, vejo sem querer.
- e por isso você acha que as pessoas não deveriam morrer?
- o que você quer com isso?
- quero dizer que morrer é um momento único, pessoal e intransponível, assim como esse xis-tudo.
- fala sério...
- quer que eu fale sério? eu não vou deixar de comer como eu quero, na minha casa, porque você quer olhar pra mim e me ver com a boca limpa. minha boca suja não me incomoda nem um pouco, minha consciência tá tranqüila, tranqüila... até mesmo porque dar uma limpada somente no final vai economizar papel e, por isso mesmo, é ecologicamente correto!
- minha nossa, que ogro... não sei onde eu tava com a cabeça quando me casei com você...
- eu te digo: na verdade, meu amor, você admira meu jeito livre e desleixado! no fundo gostaria de ser um pouco como eu, assim como eu gostaria de ter um pouco de sua disciplina, de suas regras, eu admito isso. imagina você com um engomadinho metódico ao lado...! seus dias iriam ser intermináveis! e eu vivendo com uma hippie? quando quiséssemos dar uma, por exemplo, seria um trabalho danado só pra conseguir se achar debaixo de um mar de bagunça...

eles brincam um pouco com essa lenga-lenga e enfim trepam. separam-se alguns meses depois.
quarta-feira, setembro 05, 2007
o insight

certa vez estava eu saindo de um curso que andava fazendo lá na ufrj, numa sexta-feira ensolarada de dois mil e cinco, pensando na chopada de letras que tava rolando desde as duas da tarde, com direito a feijoada e, eu supunha ter visto num cartaz, show de carlos lyra, esse um carioca legítimo. o tipo de coisa que eu tava procurando no rio, pensei. enquanto meus colegas de curso tomavam o rumo do hotel, eu tava ansioso pra dar uma passada nessa chopada. ouvir boa música, beber uma geladinha, e, talvez, conhecer uma galera interessante. óbvio que não se tratou disso. bebi a primeira cerveja quente, sozinho, vendo a "galera" rebolar ao som do mundialmente famoso funk carioca. tudo bem, vamos tomar outra cerva. quente. o som pára, dá lugar a uma microfonia. é o show, pensei, finalmente, cheguei na hora certa. então veio o axé. o não tão famoso mas igualmente poético e sensível axé baiano. esperei minha latinha quase acabar e perguntei a uma garota de um grupinho se o show já havia passado, e então ela começou a se lamentar de que havia perdido o show e que adorava a velha guarda da portela, e novamente que perdeu o show, e que eu também perdi, e que eu teria que ir à quadra da portela, que eu, de novo, perdi o show e que a cerveja tava quente e tava acabando. concordei de imediato com a parte da cerveja. a garota não parava de falar. ao saber meu nome, foi logo dizendo que também era o nome do seu coelho e que esse cagava muito e por todo canto e que ela tinha um trabalhão limpando a merda do coelho, que, novamente, tinha meu nome. eu cago menos e de preferência no banheiro, falei, mas aí ela me disse que seus outros animais de estimação eram um gato chamado "feio" e um peixe chamado "chorão", e isso me chocou. caralho, pensei, ela usou esses adjetivos como nomes próprios exceto para o coelho, que cagava pra burro, nesse ela pôs meu nome. deveria haver algum significado naquilo, era algum sinal, ou, no mínimo, deveria render alguma reflexão. feio, chorão e eu. feio, chorão e eu. ela começou a tagarelar pra outro cara que estava no grupo e eu fiquei lá - feio, chorão e eu. tentei sair do meu mundo dizendo, sarcasticamente, que estava gostando de ver uma legítima manifestação carioca, o funk, sobretudo numa calourada de letras. soou como uma ofensa pra ela, que me tomou por um tapado inculto, coisa que só vim descobrir tarde demais. foi, talvez, uma pequena cagada. feio, chorão e eu, feio, chorão e eu - aquilo começava a fazer sentido. mas então a cerva quente acabou, e não havia mais nada a fazer ali exceto escutar funk e ver cariocas embriagados tentarem descolar cariocas embriagadas. fomos beber no hotel - feio, chorão e eu.
sábado, setembro 01, 2007
uma breve noção de existência

no início, a escuridão e o silêncio. vem o teque-teque-teque do ventilador, a luz do abajur ao lado da cama se acende, e é o big bang. deitado, de cueca, o lençol da cama caindo pelos lados. um copo d'água intacto no criado-mudo estivera esperando a ressaca passar para ser tomado. a mão vai, finalmente, até o copo. ele olha ao redor, tenta arrumar o lençol. falha. esse sou eu, em algum momento do sábado. o abajur se apaga, é o fim dos tempos. lá longe, o sábado continua.
"these words i write keep me from total madness." charles bukowski

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