pitomba verde
terça-feira, outubro 12, 2004
o encontro que estabeleceu a falência dos ânimos e sua relação com o inominável

num luxuoso quarto de hotel em veneza, num cair de tarde de uma longínqua primavera, estão sir roger moore, jean-baptiste deleneuve e o homem sombrio. roger moore encontra-se impaciente. jean-baptiste está, nesse momento, preparando para si um alexander. o homem sombrio acende seu charuto.

"pra mim basta! não dá pra esperar mais! vinte e três!!", roger moore brada, fitando o homem sombrio, que o encara, em tom de desaprovação.

"paciência, sir roger, paciência. ainda há alguns que se atrasaram, mas eu te adianto: quarenta e oito...", o homem sombrio é interrompido pela gargalhada de jean-baptiste. "ainda é cedo para isso, meu caro", fala o francês, enquanto acaba de preparar seu drink. o cheiro de cacau pode ser sentido no quarto. sir roger moore pára de andar em círculos, e olha para jean-baptiste.

"minha nossa, você adora beber essa porcaria!", resmunga moore, enquanto volta a sentar-se na luxuosa poltrona, lançando um olhar de desdém para o francês.

"nossas paixões sempre nos levam a, cedo ou tarde, adorar uma ou outra, sr. moore. o vinte e três, por exemplo...", e imediatamente roger moore resmunga algo para si. breve silêncio. jean-baptiste aproxima-se da janela: "quem diria... não devemos nos antecipar. o trinta e sete não chega aos quarenta e oito, mas é de um ímpeto e originalidade fantásticos."

"recuso-me a discutir o trinta e sete!", exalta-se o inglês.

"sr. moore, não cabe ao senhor definir o escopo deste oitenta e dois. o oitenta e dois existe há séculos, e não cabe a nós dizer o que pode ou não ser discutido". o homem sombrio continua após uma breve pausa: "jean-baptiste tem o direito de propôr o trinta e sete, assim como o senhor propôs o vinte e três mesmo ciente de sua polêmica!"

"você fica aí no canto fumando seu charuto azedo em silêncio, querendo se passar por juiz, mas onde estava você quando mango-mango tomou para si o cinqüenta e cinco ao mesmo tempo - aqui moore impõe um tom enérgico - em que o cinqüenta e quatro e o cinqüenta e seis estavam sob observação?"

o homem sombrio parece grunhir. a fumaça de seu charuto envolve o abajur ao seu lado como os anéis em saturno. roger moore está em pé, fitando tensamente o homem sombrio, à espera de
um revide.

"vamos, calma!", o francês puxa moore pelo braço, "estamos aqui para resolver tudo isso, não para prosseguir nessa disputa idiota. gostaria de provar um autêntico ale irlandês, sir roger?"

moore recompõe seu paletó. "oh sim, sr. deleneuve, sim....peço desculpas... esse assunto, os senhores sabem, deixa-me tenso". e, virando-se para jean-baptiste: "adoraria, meu caro. não bebo um autêntico desde o centésimo terceiro."

"aaah, o centésimo terceiro... ", suspira jean-baptiste, enquanto dá o último gole de seu drink. "não fosse pelo rigoroso inverno daquele ano, o centésimo terceiro estaria nas mãos de um lunático, e deus sabe onde estaríamos agora!"

"mortos, mon ami, mortos", completa o homem sombrio. "assim como doze e quinze, na época do sessenta e nove. o sessenta e nove então... "

todos riem. o clima tenso parece ser deixado de lado. Longos minutos decorrem, enquanto moore aprecia sua bebida e o francês prepara outro alexander. o homem sombrio agora fuma seu charuto voltado para a janela, contemplando os últimos raios de sol que se arrastam sobre os antigos canais de veneza. do lado de fora do quarto, uma figura imaculada anuncia sua chegada dando os treze toques à porta que lhes são peculiar.

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haverá continuação...



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