jazz é muito bom, né não?por volta de nove e meia meu telefone dá aquele toque de judeu, uma amiga das antigas. sabia que era alguma bronca. ligo de volta, já falando:
- diga, minha linda.
- essa vida é tão frustrante...
- você só percebeu isso agora?
- é. o que se faz com ela?
- amar.
- amar?
- é, amar.
- e...?
- ser amado também é importante.
- muito pouco. ainda é frustrante.
- fazer sexo com quem se ama é muito bom.
- isso é. mas tem que encontrar alguém que se ame.
- por isso é raro. na maior parte das vezes o negócio é ir transando com quem não se ama.
- até encontrar alguém que dê pra amar, e, talvez, dê pra transar.
- é, mas quando acontece é muito bom.
- é muito bom mesmo, mas é pouco.
- há quem se contente com isso. até achar o próximo amor...
- ou não querer mais sexo.
- como?
- ou até não se importar mais com sexo.
- aí melhora.
- melhora como?
- na maior parte do tempo a gente pensa em sexo. grande parte de nossa energia tá direcionada pra isso. quando a gente não quiser mais sexo, nossa paixão, nossa motivação, nossa energia vai estar direcionada pra coisas mais significantes da vida, e, diga-se de passagem, coisas muito menos problemáticas.
- é...?
- quando o desejo sexual desaparece, você pára de agir como animal e começa a agir como gente.
- mas é difícil!
- muito difícil!
- e chega uma hora em que você morre.
- é... você faz sexo na maior parte das vezes com quem você não ama, algumas com quem você ama...
- ...e então morre.
- é, e muito provavelmente morre ao lado de quem não ama.
- isso é frustrante.
- eu te falei, descobriu tarde.
ela diz que não consegue mentir pra mim e aí segue-se um papo bem mais pesado. coisas que só acontecem terça-feira à noite, é de lascar. e então chega a hora de desligar.
- vou pensar nisso tudo.
- pensa mesmo.
- eu te amo.
- também te amo.
já viram o que acontece quando se derruba a primeira pedra duma fileira de dominó? cacete...